A morte do RRPG Firecast
Minha história e apego com o Firecast
Eu uso o Firecast há pelo menos 12 anos. A primeira vez que baixei o software foi em 2013 e esse ano marca mais de uma década sendo usuário fiel do RRPG, que por muito tempo foi o melhor aplicativo de RPG de mesa que eu já usei.
Eu devo muito ao Firecast - foi onde eu aprendi a jogar RPG de mesa. Lá também conheci amigos, criei ressentimentos (é, eu errei e continuo errando enquanto tento me tornar um bom narrador), adaptei 3D&T Alpha inúmeras vezes e participei de histórias que lembro-me até hoje de tão boas que foram (devo bastante ao Alexandre pela Rise of Rausten e ao Adriann pela Centúria).
Nessa jornada de uso, busquei sempre apoiar o desenvolvimento do Firecast através das assinaturas. Unindo o útil ao agradável, fazia sentido pagar "uma latinha de refrigerante por mês" para mestrar e incentivar o crescimento do RRPG.
E é com esse tom de nostalgia que lhes escrevo uma verdade que é bastante difícil de digerir mas que precisa começar a ser aceita; o Firecast está morrendo.
Estagnação
Desde o último grande lançamento do Firecast 8 em 2022, o aplicativo está... largado. Depois de um grande trabalho, inspirando o design e a usabilidade do programa no já consolidado Discord, o Firecast recebeu um merecido facelift garantindo modernidade para os próximos anos. Porém, foi o último que vimos dos esforços para inovar.
O programa literalmente parou no tempo. Não acompanha o mercado e os novos lançamentos, não consegue soltar features simples como a adição de novos sistemas para as mesas e não incentiva a comunidade a fazê-lo.
Oportunidades Perdidas
O marketing do RRPG não é contínuo. Durante a pandemia, houve uma grande chance de ouro de capitalizar novos jogadores fixos para a plataforma e fazê-la crescer exponencialmente. Todos estávamos trancados em casa e RPG foi uma das melhores formas de esquecer a calamidade pública que estava acontecendo lá fora. Porém, vendo a data de criação dos perfis que frequentam a plataforma atualmente, são poucos aqueles que fizeram seus perfis em 2020 e continuam acessando.
A ascensão do RPG na mídia, como é o caso do Ordem Paranormal de Cellbit, do Critical Role de Matt Mercer e os R$ 2 milhões de reais arrecadados com o financiamento coletivo de Tormenta 20 solidifica o fato de que o número de jogadores de RPG na verdade esteja aumentando nos anos recentes. Portanto, nós temos jogadores. Mas por quê a população do aplicativo não está crescendo? Por quê concorrentes como Owlbear Rodeo, Roll20 e Foundry estão aparecendo em lives e vídeos do YouTube mas o Firecast não?
Abandono
O próprio desenvolvedor, Alysson... sumiu. O último login dele no RRPG é de 2 meses atrás a partir da data de escrita desse post. Uma pergunta desconfortável feita no servidor do Discord sobre o futuro do aplicativo foi simplesmente... ignorada. Passou em branco.
Em 12 meses, não tivemos um único release sequer. Nem feature, nem correção, nem patch o que nos leva à reflexão; como todo software de computador, o Firecast eventualmente se torna vulnerável à hackers que fazem uso de exploits lançados em uma base quase diária na internet. O quão seguro é usar o RRPG Firecast em 2025?
Usuários não recompensados
Muitos usuários ainda assinam algum tier de subscrição do Firecast. Seja para colocar enfeites no seu perfil até liberar funcionalidades de mestragem que são escondidas atrás de um paywall (como criar diretórios dentro do ambiente da sua mesa). Portanto, é possível afirmar que há dinheiro fluindo por trás do negócio. Existem tiers de subscrição, como o Ruby, que chega ao valor de R$212,00 - quase o valor de uma licença de softwares mais robustos.
Porém onde vai esse investimento? Se não temos releases, qual a justificativa do custo do premium?
Caminhos para o futuro
A maior joia da coroa do Firecast é o seu rico suporte à texto e o seu formato inspirado em softwares de chat. Não é necessário convencer seus amigos à jogar RPG; basta criar a sua mesa e esperar jogadores interessados aparecerem. Além disso, você pode ser um desses jogadores entrando em mesas interessantes, pedindo uma ficha e jogando. Outros softwares concorrentes falham em fazê-lo da mesma forma, esperando que a sua party esteja já pronta (como é o caso dos famosos VTTs Owlbear Rodeo e Foundry) ou é voltada para o público anglo-saxão (como é o caso do Roll20).
Além de uma user base apaixonada e fiel que frequenta o software a anos, usar esse comprometimento aliado à era da inteligência artificial - onde desenvolver código se tornou algo trivial - uma das saídas para o Firecast seria se tornar um software open-source. "Terceirizando" o trabalho para além de criar novas fichas e modais para o programa, a comunidade do aplicativo pode fazer uma verdadeira revolução e fazer o RRPG se tornar a referência brasileira no RPG de mesa. Parcerias com grandes YouTubers e streamers, anúncios em redes sociais envolvendo o nicho... O céu é o limite.
E se caso isso não acontecer e as coisas não melhorarem... Bom... nós já sabemos o que acontece com negócios que se recusam em inovar.
E sim, Arcana Pixel, estou de olho em você.